O nº55 na rua dos Taipas, na encosta da Glória (que desce para o jardim de São Pedro de Alcântara e da rua D. Pedro V para a Avenida da Liberdade), foi no início do século XX a Vila Martel, um “refúgio e mansões de trabalho de pintores e escultores”.

Mandada construir pelo republicano e fundador do famoso jornal lisboeta O Século, José Campelo Trigueiros Martel, nos terrenos traseiros da casa dos Condes de Castelo Branco, a Vila (ou “pátio”) acolheu, entre finais do século XIX e meados do século XX, figuras como os pintores Columbano Bordalo Pinheiro (que ali retratou o escritor importante Antero de Quental), os pintores José Malhoa, Carlos Reis e Nikias Skanipakis (que manteve o seu atelier aqui até 2015).

A Vila Martel fica por detrás de uma porta normal, hoje fechada, e foi um lugar de arte, mas também de revolução: nos anos 1950, a vila recebeu as primeiras reuniões da Junta Patriótica da Salvação Nacional.

Com a passagem do tempo, a Vila Martel foi também sendo esquecida, com os ateliers a fecharem as suas portas e as casas a receberem novos moradores. Em 2016 anunciou-se um projeto de demolição da Vila para a construção do parque de estacionamento do hotel Memmo na rua D. Pedro V, um hotel já de si polémico, por estar semi-encravado numa encosta, tendo dois acessos sem ligação entre eles.

Os moradores receberam cartas com ordens para sair, mas, entretanto, o projeto foi chumbado pela Câmara Municipal de Lisboa.

Seis anos depois, a Vila voltou ao esquecimento. Por ali, as ervas crescem e o lixo vai-se acumulando, mas sobrevivem as recordações de quem ali pintou, nesse pátio do Martel que o escritor Raul Brandão descreve nas suas Memórias: “Pátio do Martel, um cantinho com uma figueira e malvaíscos. Uma fiada de casas e no extremo o atelier de Columbano”.

Por Ana da Cunha