No Campo Grande, descobrir um jardim onde lazer é igual a matemática
A quem circula pelo Campo Grande pode passar despercebido: estão espalhados pelos 11 hectares do rebatizado Jardim Mário Soares equipamentos dedicados a uma disciplina que, para muitos, não combina com a natureza ou momentos de lazer: a matemática.
O percurso sugerido inicia-se na ala norte, entre os campos de ténis e a McDonald’s, onde se situam quatro bancos de cimento. Os bancos são dedicados aos jogos abstratos. Entre eles, o medieval Alquerque e o contemporâneo Hex, ou ainda, o Mancala, oriundo da África, considerado o mais antigo do mundo.
Ainda no lado norte do Campo Grande está o Quarto de Ames, a segunda paragem do percurso. Aparentemente, um imenso cubo de cimento, com o chão e as paredes axadrezadas. O desafio recebeu o nome do norte-americano Albert Ames Junior, estudioso da ótica. Em resumo, ao ver-se uma outra pessoa através de um furo na parede, tem-se a impressão de que ela aumenta e diminui de tamanho.
A terceira paragem do tour é já no lado sul, no lago diante de um ginásio: as Sete Pontes de Könisberg ou Conisberga, em português, uma província cuja situação geográfica é por si só uma equação. O território, hoje na fronteira da Rússia com a Ucrânia, já pertenceu à Polónia e ao Império Alemão.
Foi neste período que o matemático suíço Leonhard Paul Euler resolveu o desafio envolvendo as pontes da cidade. O traçado copia a arquitetura local. Havia um rio e umas ilhas no mesmo, ligadas pelas pontes. O desafio era fazer um passeio por Könisberg atravessando todas as pontes, mas sem cruzar mais de uma vez por uma delas.
A quarta paragem é na representação de um método desenvolvido por Pedro Nunes, considerado o maior matemático português. A Loxodrómica é uma curva que ajuda a representar na superfície plana de um mapa o formato esférico da Terra. Um trabalho crucial desenvolvido em pleno período das Grandes Navegações.
A última parte do passeio inicia-se na praça de Entrecampos em direção ao início do percurso, uma viagem no tempo através de placas dispostas na calçada, contando a história da matemática através dos anos. Uma espécie de hall da fama dos números, que se inicia na Babilónia, dois mil anos antes de Cristo, e termina no início deste século.
Por Álvaro Filho