O Lazareto dos soldados, dos órfãos e das famílias das ex-colónias
Já alguma vez ouviu falar do Lazareto de Porto Brandão? Vê-se do ar e é um edifício peculiar, hoje em ruínas, em cima de Porto Brandão, Almada. Era aqui que aqueles que chegavam a Lisboa por via marítima faziam quarentena, depois, onde viveram soldados de guerra, a seguir, raparigas orfãs e mais tarde ainda famílias vindas das ex-colónias.
Assente na colina de Porto Brandão, ao lado do Lazareto Velho e do lado oposto da Torre de Belém, o Asilo 2 de Maio ou Lazareto de Lisboa foi construído em 1869 por António Joaquim Pereira. No seu tempo, este novo lazareto foi considerado “o maior lazareto do mundo”.
Durante a Primeira Grande Guerra, o Lazareto albergou “convalescentes e extenuados da guerra”, repatriados de França e África. Nos anos seguintes, funcionou como presídio militar, abrigando revoltosos e, finalmente, seria transformado num asilo de crianças, onde se alojaram 1500 vindas de outros asilos de Lisboa. Ficaria conhecido como o Asilo 28 de Maio, acolhendo raparigas orfãs e tornando-se uma secção da Casa Pia de Lisboa (uma instituição lisboeta fundada para acolher órfãos e mendigos).
Mas as derrocadas cedo começaram a ameaçar este edifício: em 1958, a queda de um telhado vitimou duas alunas, uma delas filha de um anarquista almadense, José da Silva Gordinho. O edifício seria então abandonado.
Anos mais tarde, os temporais que desalojaram famílias em Porto Brandão levaram ao seu realojamento no Asilo 28 de Maio. E foi aqui que mais de 150 agregados familiares e 600 pessoas se instalaram, vindas das colónias, depois do 25 de abril.
Só em 1996, depois de mais uma derrocada que levou à morte de duas crianças, é que as suas paredes foram definitivamente abandonadas… até agora. Mas as notícias têm corrido: este velho edifício terá sido comprado por investidores chineses com a intenção de o transformarem num hotel, esquecendo-se a história que este edifício encerra.