Obra Convidada, “El Abrazo”

Juan Genovés (Valência, 1930 – Madrid, 2020) ocupa um lugar de singular importância no panorama da arte contemporânea espanhola. A sua produção artística revela-se uma crónica viva de alguns dos acontecimentos históricos, políticos e sociais mais impactantes da segunda metade do século XX.

Trata-se de um dos pintores mais relevantes da dita transição espanhola, enquadrando- se o seu trabalho numa geração de artistas que revela um forte compromisso político com a democracia.

El Abrazo é, sem dúvida, a obra mais aclamada deste artista valenciano. A peça foi concebida numa conjuntura política complexa — a morte de Franco em 1975, após quarenta anos de ditadura, mergulhava o país num tenso debate sobre o caminho a tomar: a restauração da democracia ou a continuação de um regime ditatorial.

Nesta pintura de um realismo fotográfico expressivo, Genovés consegue retratar, com um gesto tão quotidiano quanto o é um abraço, o triunfo da democracia e o desejo de reconciliação do povo espanhol. Tal é a potência da linguagem visual desta peça que a Junta Democrática a usou no cartaz para o pedido de amnistia para os presos políticos no final da época franquista, contando com uma tiragem de 500 000 exemplares que transformou a obra num ícone da memória coletiva espanhola.

Como tal, no contexto da celebração dos programas Mostra Espanha 2024 e PORTUGAL-ESPANHA. 50 anos de cultura e democracia, esta pintura configura uma clara manifestação das relações entre a arte e a política e do papel da cultura na luta quotidiana pela liberdade.